segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

D. PALMEIRA LESSA



VISÕES DO OLHAR EM TRANSE
de Severo D’Acelino

Todo poeta é um visionário, muitas vezes angustiado, que
olha o mundo, as pessoas, os acontecimentos e as coisas como em
transe, à semelhança das visões de São João no Apocalipse.

É o que acontece nestas Visões do Olhar em Transe de Severo
D’Acelino. O autor, numa linguagem aflitiva, vive uma crise de
angústia ao olhar seu povo afro “transfigurado por vendas impostas
pela dominação”. Ele clama pelo reconhecimento e valorização da
raça negra, ainda não libertada das opressões que a sociedade “branca”
lhe impõe. Poeticamente, revolta-se contra os negros que negam
sua negritude “assumindo a branquitude nas opiniões e atitudes,
numa realidade ofuscante da coloração epidérmica...”.

Severo D’Acelino alça altos vôos poéticos para, em seguida,
mergulhar nas profundezas das águas do subconsciente em busca da
construção da consciência negra.

Como Castro Alves, o autor canta seu lamento pela liberdade
perdida da raça ao cortar as ondas do Atlântico e ser aprisionada nas
Senzalas, a serviço da Casa Grande, que ainda subsiste em nossos
dias, disfarçada ou escancaradamente, e teima em fazer discriminações
por motivos de cor da pele. Pois “construíram uma casa na
ponte, impedindo-lhe de ver o nascer do sol”.

Em nome dos negros, Severo D’Acelino clama em suas Visões
por “uma Educação que os eleve e identifique proporcionando
igualdade de oportunidade numa união na diversidade”.
Seus poemas são gemidos abafados, são lágrimas ignoradas,
são gotas de suor e sangue que continuam regando o chão de nossa
sociedade, que teima em “calar as vozes dos libertários negros numa
etnocida de aculturamento”.
Sente-se o calor de suas lágrimas caindo em nossa consciência
de “brancos”, quando ele diz: “Seus olhos pensam que me
conhecem mas você não sabe a extensão do meu sofrimento”.
Com muita precisão o autor nos alerta no poema 352:
“ Antes de Cristo, já existia amor entre os inimigos e o apelo ao perdão”.
As Visões do Olhar em Transe são um brado angustioso por
justiça, igualdade e fraternidade como Cristo veio ensinar à toda a
humanidade, independente da raça, cor, cultura ou religião:
“Pai,que todos sejam um...”.

Dom José Palmeira Lessa
Arcebispo Metropolitano de Aracaju

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SEVERO D’ACELINO. Sergipano de Aracaju, (47) filho de Acelino Severo dos Santos e Odilia Eliza da Conceição – Fundador do Movimento Negro em Sergipe; Bahia e Alagoas – Ativista dos Direitos Humanos – Poeta , Dramaturgo , Diretor Teatral , Coreográfo , Pesquisador das culturas Afro indigena de Sergipe , Ator . Em 68 fundou o Grupo Regional de Folclore e Artes Cênicas Amadorista Castro Alves em 73 os Cactueiro Cênico Grupo e Teatro GRFACACA, introduzindo o Teatro Armorial e o Teatro de Rua em Sergipe. Dirigiu diversas peças e espetáculos de dança, entre eles: Maria Virgo Mater Dei, O Mistério da Rosa Amarela, A Última Lingada, De Como Revisar Um Marido Oscar, Terra Poeira in Cantus, Navio Negreiro,Água de Oxalá, A Dança dos Inkices D’Angola, Iybo Iná Iye, João Bebe Água. No Cinema interpreta Chico Rey , Espelho D’Agua e na Televisão: Thereza Baptista Cansada de Guerra. Autor de diversas peças textos e coreografias destacando a Suíte Nagô. Casado, Militar Reformado da Marinha de Guerra do Brasil. Coordenador Geral da Casa de Cultura Afro Sergipana.