
VISÕES DO OLHAR EM TRANSE
POEMAS TRANSCULTURAIS AFRO SERGIPANOS
“VISÕES TRANSCULTURAIS DO OLHAR EM TRANSE”
Nesta revisitação ancestral, busco na leitura dos signos da
transculturalidade, interpretar os ritus memoriais de meu povo, na
perspectiva deste olhar transfigurado por vendas impostas pela dominação
e desconstruida pela insubordinação do panafricanismo
que ousou rever a trajetória através do resgate refazendo caminhos,
numa pontuação afastada, para descortinar um ângulo maior, a visão
mais nítida, buscando na perspectiva do algoz, a releitura de páginas
da nossa história, camuflada pelo medo.
O meu olhar revitaliza as minhas lembranças e desejos adormecidos
pelo engessamento da cultura oficial que através da censura,
até hoje nos nega as evidências desta construção, só alcançado
por determinada elite que detem o conhecimento de nossa história, a
chave da nossa filosofia e, através do eurocentrismo, exclui de nossa
memória o patrimonial de nossa matriz, seus empréstimos, reimprestimos
e representação transcultural.
Essas lembranças tocadas pelo desejo animado pelo transe,
evocam o passado através dos versos livres, numa analogia simplista
numa de visão mítica em reverencia aos ancestrais e suas influências
cosmológicas, nas diversas culturas que se materializam nos eventos.
Essa materialização mítica dos transportes e, recolhendo retalhos
em cada expressão, nesta viagem de imagens, reciclando-as e
unindo em colcha de retalho multicolorida, policromática e polifônica
onde os ícones africanos se destacam os caminhos que levam
os Ancestrais, expressões de sua filosofia, histórias, funções, ritus,
representações e domínios.
Esse transe semi-consciente, inconsciente e total. Não procuro
meus Ancestrais dentro de mim, porque sei que estou no interior
deles. Visões do Olhar em Transe, poemas transculturais afro
sergipano, numa ação continuada do Panafricanismo de Panáfrica
África Iya N’La, do Culturalismo em Quelóde que se completa num
triangulo temático: A trilogia do ritu.
Visões do Olhar em Transe – nasceu espontaneamente numa
noite inquietante de feliz coincidência onde o sonho interferiu na
materialização de uma presença. É uma reflexão e análise do meu
pensamento. Não programei ou elaborei nenhum projeto ou roteiro
de ação, os versos foram surgindo e materializando no papel como
registro memorial.
Quis fazer versos temáticos de olhares, visões,
sóis e estrelas na vastidão luminosa. Fiz versos tristes, inquietantes,
denunciadores, ácidos e dramáticos impregnados de linguagem
simples e repetitiva. São versos vivos de ilusão duradoura, cheios
de símbolos sem malabarismos, falando sobre o amor e dor que há
em mim como ícone de esperança. São versos livre que denunciam
a elevação da minha imaginação e sentimentos na medida em que
manifesta minha auto-estima, ora em alta ou baixa.
São versos que expressam os meus encontros nos desencontros
da emoção e construção do meu pensamento sem nenhum rastro
de racionalidade, e sim uma vasta gama de emoção, inquietude
impertinente numa constante entrega. Neste particular fui sempre
guiado pelo fluxo das visões e as registrava como um personagem
possuído pelo autor, induzindo as ações sinalizadas, o meu fazer em
transe hipnótico, materializando lembranças e símbolos.
Em meus versos a eterna interrogação do ativismo da unidade
racial. O que fazer com os negros que não são pretos(Pardos e
Mulatos) e com pretos que querem ser brancos, se nenhum deles se
reconhece como negros?
A incógnita é uma variável no registro dos meus versos construídos
dos sentimentos, vivenciando os momentos do olhar em transe,
e os momentos passam, daí a dinâmica das relações.
As composições foram, diria, psicografadas, induzidas por
forças iluminadas, incorporando totalmente o personagem que denuncia
o autor e busca desesperadamente atores para interpretar o
grande momento numa apoteose de impacto finito. Represei o Olho
D’agua e desviei o Rio.
Severo D’Acelino
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