
O Babalorixá
Desde os tempos idos, o terreiro de candomblé é tido e ouvido por espaço comum, um quilombo, uma nação onde muito se agregam e buscam asilo.
Esse fluxo tornou – se tradição seja o tamanho que tenha, seja pequeno ou grande, pobre ou rico, o terreiro tem sempre algum agregado e o pai ou a mãe de santo, terá sempre algumas adoções espontânea.
Os filhos e filhas adotivos e esses filhos nem sempre acompanham a tradição da casa, não são seguidores da tradição, e muitas das vezes tem sido objetos de divergências no terreiro e na comunidade, confrontando pais e mães de santos, arranhando antigas amizades e esfriando relacionamentos.
MÃE ELIZA, amiga de primeiras horas e longas datas de Alexandre de Laranjeiras, teve um embate sério por conta da relação de sua filha adotiva com um filho de santo de Alexandre, agregado de sua casa, seu nome era Benício e era Filho de Xangô Leuí e tinha um Caboclo de nome Caipó, um Caboclo muito brabo e temido, pois quando descia corria mata a dentro e voltava com um pé de adicurizeiro, jurema ou montes de cansanção nas costas e trepidava o Caramanchão, era bonito de se ver. Pois Benício se engraçou pela filha adotiva de Mãe Eliza e provocou num embate ruidoso entre os dois amigos que chegaram a um enfrentamento perigoso, salvo pelo respeito e consideração que ambos se nutria e pela ligação mágica dos dois terreiros.
Alexandre não deixou barato e foi taxativo quando disse;
- Comadrinha, isso não vai ficar assim. Enquanto a Senhora vida tiver, ele terá.
Mãe Eliza ouviu calada e calada ficou.
O envolvimento dos meninos, como eles tratavam era fruto do intercâmbio natural que havia entre os dois Terreiros e a amizade incondicional dos seus Zeladores, principalmente na época em que os Pais de Santos se temiam e desconfiavam um dos outros, estes dois eram como unha e carne, a festa de um Terreiro não se fazia sem a presença do outro e Benício disso se aproveitou para acampar no Terreiro de Mãe Eliza e lá fincar pé,. Casando com Bebé sua filha adotiva, pivô da história.
Benício era embarcadiço, e Bebé Mãe Pequena do Terreiro de Shango Aiyra, de Mãe Eliza, localizada na Suíça Braba em Aracaju, dessa união tiveram cinco filhos, a mais velha veio a falecer misteriosamente por uma estranha mordida de formiga.
Benício tinha um companheiro, o seu irmão de Santo Paulo Gitoki, que junto faziam as mais variadas brincadeiras de mau gosto nos festejos, principalmente quando bebiam, mais eram protegidos de Mãe Eliza e nisso foi ficando tolerável principalmente porque gostavam do seu Caboclo, era uma festa quando Seu Caipó descia e ainda mais quando pulava o muro do Barracão com um pé de espinho enorme, arrancado pela raiz causando o maior alvoroço nos presentes que corriam com medo do Caboclo e dos espinhos.
Mesmo morando na Casa de Mãe Eliza, casado com sua filha, Benício nunca deixou de obedecer aos ritus e tradições da Casa de Alexandre e sempre estava lá mesmo que Mãe Eliza não estivesse, Benício nunca deixou de fazer suas obrigações e nem manter sua integração em casa com seus irmãos adotivos e de Santo. Tia Alira a Mãe Pequena da Casa sempre estava contornando qualquer problema.
Nos festejos em Laranjeiras Mãe Eliza estava sempre presente, era a única que não podia faltar e a única que era ouvida por Alexandre e nisso se garantiu a permanência do diálogo e da amizade dos dois sem ser abalado pela ação dos dois filhos, ele de Xangô e ela de Oshum.
Benício foi morar no Rio de Janeiro e se localizou em Niterói onde edificou sua residência e mandou buscar a mulher e os filhos, Mãe Eliza não suportou a ausência e se transferiu para Niterói, levando todo o fundamento do Terreiro que plantou na nova localidade, a transferência do Terreiro de Shango Aiyra de Aracaju para Niterói sofreu problemas de continuidade e de equilíbrio das forças , mas foi instalado com sucesso no novo espaço, conquistando novos adeptos e contribuindo com a nova comunidade.
Tempo depois Alexandre morre, sem a presença de Mãe Eliza, sua Grande Amiga e companheira dos mais importantes eventos, os acontecimentos em Niterói começam a se complicar com o desequilíbrio da família e o enfraquecimento do Terreiro, e tempo depois Mãe Eliza vem a falecer, o Templo de Shango começa a a ruir e Benício morre e em seguida a sua companheira Bebé, fechando o ciclo da predição do Babalorisha indignado com a quebra de autoridade.
- ‘Comadrinha. Enquanto a senhora viver, Benício viverá. ’
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